Do site da BBC BrasilA fotógrafa Rachel Papo registrou em livro o dia-a-dia das adolescentes israelenses que interrompem sua vida para cumprir o serviço militar obrigatório no país, que dura 21 meses para as mulheres e três anos para os homens. O livro "Serial Nº 3817131", que está sendo lançado este mês, é uma viagem ao passado da própria fotógrafa, que nasceu nos Estados Unidos, cresceu em Israel e serviu o Exército entre 1988 e 1990.
"'Serial Nº 3817131' representa meus esforços para entender a experiência de ser um soldado, sob a perspectiva de um adulto", diz a fotógrafa em seu website. "Em uma idade em que as explorações sociais, sexuais e educacionais estão em seu ápice, a vida de uma jovem israelense de 18 anos é interrompida. Ela é retirada de sua casa e colocada em uma instituição onde sua individualidade é temporariamente posta de lado em nome do nacionalismo", diz ela.
O livro procura refletir a experiência que a própria fotógrafa viveu no exército, tempo que ela descreve como de "extrema solidão, misturada com apatia e introspecção, quando eu era muito jovem para entender tudo isso".
"Por meio da lente da câmera, tentei reconstruir as facetas de minha vida militar, esperando reconciliar questões que ficaram sem ser resolvidas."
As fotos - tiradas ao longo de dois anos em várias bases militares israelenses - revelam as jovens recrutas em seu dia-a-dia, além do treinamento. Nas fotos, é possível ver as meninas se preparando para um dia de treinamento, esperando na fila do banho (sempre com as armas em punho), ou comprando refrigerantes pouco antes do toque de recolher, em que todas têm que estar de volta às suas camas.
"As meninas que encontrei durante essas visitas estavam desconectadas do mundo exterior, completamente absorvidas em sua realidade paradoxal", diz a fotógrafa, que com o livro pretendeu criar uma ponte entre seu passado e o presente - "uma combinação de minhas próprias lembranças e as experiências das meninas que observei".
Ela conta ter se sentido bastante desorientada ao voltar às bases militares, porque "memórias começaram a emergir, misturadas com uma sensação de alienação". Segundo Papo, cada foto do livro, de alguma maneira, representa uma lembrança dos tempos dela como recruta. "De certo modo, cada uma (das fotografias) é um auto-retrato, mostrando uma jovem em momentos passageiros de introspecção e incerteza, tentando entender a desafiadora rotina diária."
"Ao tentar manter sua gentileza e feminilidade, as soldadas parecem questionar sua própria identidade, abraçando o fato de que dois anos de sua juventude serão gastos em uma melancólica concessão", diz a fotógrafa. O livro, com texto de Charles H. Traub, é lançado neste mês de maio nos Estados Unidos pela editora powerHouse Books.
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