terça-feira, 20 de março de 2007

Réquiem para Alberto Ferreira



Foto de Alberto Ferreira, que faleceu no último dia 12, aos 75 anos

Coluna de Roberto Porto, publicada no
Direto da Redação

No JB velho de guerra, no prédio histórico da Avenida Rio Branco, 110 (telefone 22-1818) trabalhei com um time de fotógrafos de primeira água: Alberto Ferreira, Erno Schneider, Campanella Neto, Evandro Teixeira, José Antônio Moraes, Delfim Vieira, Kaoru Higuchi, Odyr Amorim, Alberto Jacob, Ronaldo Theobald, Antônio Andrade e Ary Gomes, entre tantos companheiros de batalhas diárias atrás das notícias.

O diferencial do JB naquela época era a criatividade e a sensibilidade do fotógrafo, sem perder a noção do que era ou não jornalismo. Gostava tanto de fotografia que, às vezes, passava horas no escuro, assistindo aos processos de revelação e cópias (todas em PB), colado nos calcanhares de Jair Marinho, laboratorista. Cheguei a comprar uma Pentax de segunda mão para tentar fotos.

É óbvio ululante que me recordo de certas fotos histórias, como a de Antônio Andrade, surpreendendo Juscelino Kubistcheck (1902-1978) aparentando pedir ajuda ao embaixador americano Lincoln Gordon. O título da foto? "Me dá um dinheiro aí". Dizem que a gracinha fez o JB perder seu canal de televisão. Mas há outras. Erno Schneider surpreendeu Jânio Quadros (1917-1992) com os pés tortos, na pista do Galeão e o título da foto mostrou as indecisões do presidente: "Direita ou Esquerda?". E Alberto Ferreira pegou o momento em que Pelé sentiu a coxa na Copa do Mundo de 1962 no Chile e que levou o título "A dor que o Brasil inteiro sentiu".

José Antônio Morais, um gentleman de máquina em punho, flagrou mãe e filha apavoradas após os temporais no Rio em 1966. O título: "Uma noite de enlouquecer". Evandro Teixeira foi premiado com a foto de uma moto seguindo sozinha, com o policial do Exército caído ao chão; Kaoru Higuchi, o japonês, flagrou o general De Gaulle com crianças no Monumento aos mortos da II Guerra. Alberto Jacob, que não tirava a Nikon do pescoço, flagrou uma freirinha atropelada na Avenida Rio Branco. Ronaldo Theobald, grande figura, fez uma foto do zagueiro Mário Tito, do Bangu, caindo de cabeça para baixo num clássico contra o Fluminense.

E por aí foi, durantes anos e mais anos. Até hoje, vivo de escrever. Mas amo fotos.

Nota do autor: Esta coluna foi escrita em homenagem ao paraibano Alberto Ferreira (1932-2007) que nos deixou faz poucos dias. Em 1965, Alberto Ferreira fez uma foto de uma bicicleta de Pelé no Maracanã, contra a Bélgica, que se transformou numa espécie de ícone do jornalismo esportivo, tal o oportunismo do fotógrafo e a plasticidade do movimento do jogador. Descanse em paz, companheiro...

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